Poesias que ouço – “Ora (direis) ouvir estrelas!”
Elas (as poesias) encantam-me de
muitas formas. Sou tomada pela emoção tanto ao ler belos versos quanto ao
ouvi-los declamados ou cantados. Convenhamos, uma bela declamação é nada mais
nada menos que arrebatadora! Por viver esse prazer de ouvir poesias é que lanço
a série POESIAS QUE OUÇO na qual nós leremos e ouviremos belas poesias
declamadas e musicadas. Esteja à vontade para escolher a forma que mais te
emociona!
Olavo Brás Martins dos Guimarães
Bilac, este será o poeta da estreia da série. Poeta carioca, parnasianista,
Bilac era também jornalista, é o autor da letra do Hino da Bandeira e tinha
paixão pela língua portuguesa.
Além do Hino, uma das obras mais
populares de Bilac foi cantada. Trata-se do Soneto XIII da obra Via Láctea:
"Ora (direis)
ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
Os versos foram interpretados por
Paula Toller, no Kid Abelha.
E também foram declamados por
Paulo Autran.
Este soneto é adorável! É
evidente que converso com as estrelas, tanto nos meus momentos poetisa quanto
nos meus momentos Angélica. Conversar com as estrelas não é só privilégio e
prática de poetas (que são socialmente aceitos em seus excessos), mas de quem
sente, sempre ou ocasionalmente, que faz parte de uma realidade além da
palpável, que respira melhor quando conversa com as estrelas, que gargalha e se
emociona com a beleza e a simplicidade do céu.
Ouço poesias e ouço estrelas!
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